KEY WEST - Restaurante Martin's - por Luiz Roberto Marinho

29/07/2013 13:31

AO SUL DO SUL

Se existe o Paraíso,  como apregoam Dante e o catolicismo, deve ser parecido com as ilhas do sul da Flórida. São quatro grandes ilhas -  Key Largo, Isla Morada, Marathon e Key West - atravessadas pela US Route 1, rodovia de 3.813 quilômetros que vai do norte, começando por Fort Kent, no Maine, na fronteira do Canadá,  e na Flórida é esticada por 42 pontes até acabar em Key West, o ponto mais ao sul dos EUA, a 150 quilômetros mar afora de Cuba.

De Miami a Key West são cerca de quatro horas de carro, com paisagens deslumbrantes: um mar de verde intenso, calmo, de águas quentes, como uma piscina infinita,  de um lado e de outro da US Route 1.  Em muitos trechos, o mar repousa na beira da rodovia. Nestes trechos, se você parar o carro no acostamento dará três ou quatro passos e enfiará o pé  na água. Casas bonitas, pousadas e hotéis por toda parte, um calor nordestino, feito sob medida para desfrutar do mar.

A convite de uma amiga de adolescência de OG, CF, que morou em Fort Lauderdale nos anos 70 e comprou recentemente um apartamento térreo lá, de três quartos, num pequeno condomínio, ao preço de uma quitinete no CA, o Centro de Atividades, no Lago Norte,  fomos conhecer Key West. Éramos seis: OG e eu, CF, seu filho WF e a mulher dele, MF,  e mais uma tia de CF, AB, gaúcha que mora em Fort Lauderdale.

NARIZ DE CERA -         Todo este longo intróito - que na linguagem jornalística chamamos de nariz de cera -  é para comentar mais adiante, com muita honra, no prestigiadíssimo blog Amigo Gourmet, nossa incursão ao Martin's, um dos muitos restaurantes de Key West.

Se a paciência do internauta permitir - um atenuante para este colaborador bissexto é que o blog também aborda viagens - prolongo um pouco mais o nariz de cera para relatar, sucintamente,  que entre as muitas atrações do charmosíssimo balneário de Key West está o por do sol na Mallory Square, a Sunset Celebration, da qual participa todos os dias uma pequena multidão. Este esforçado aprendiz de escriba esteve na Sunset Celebration bebericando, no bar do pier, o Sunset Pier, deliciosos - e criativos -mojitos de pepino.

Não é possível deixar de mencionar em Key West, para encerrar o nariz de cera,  a casa onde o grande Ernest Hemingway morou por nove anos (entre 1931 e 1940) com a segunda de suas quatro mulheres oficiais, Pauline,  na qual escreveu Por Quem os Sinos Dobram. Imperdível também é o lugar no qual exercitava sua segunda grande arte, a de beber, o Sloopy Joe's. Obviamente não poderia deixar de ir ao bar, no qual  me hidratei, estimulado pelo calor lá fora, com alguns chopes da Yuengling, a mais antiga cervejaria dos EUA, uma das poucas biers americanas bebíveis.

  

DOS DEUSES - Mas vamos, pois, ao que realmente interessa. Apesar do burburinho característico de um balneário badalado, as cozinhas fecham cedo em Key West, por volta das 22hs, imperdoável e inexplicável. Sem fazer reserva, chegamos ao Martin's em torno das 20hs. Havia poucos comensais. É um restaurante de tamanho médio, térreo, com três ambientes, um deles ao ar livre, moderno, clean,  com cortinas de voil, esvoaçantes, separando as mesas ao ar livre.  Um ambiente agradável, enfim.

O Martin´'s, como não poderia deixar de ser, fica na Duval Street, a rua do vuco-vuco e azaração em Key West, com bares, restaurantes, lojas  e galerias de arte dos dois lados. Mal comparando, seria como a Rua das Pedras em Búzios, só que triplicada - em extensão, estabelecimentos e opções.

O chef e dono, Martin Busam, é alemão de nascimento, mas está nos EUA há mais de 20 anos e há sete, após trabalhar em outros pequenos restaurantes, abriu o seu em Key West.  Simpático, cozinha trajando o dolmã tradicional e bermudas, acessório universal em Key West, 24 horas por dia, absolutamente racional para o clima.

Para beber, a maioria preferiu o espumante francês Louis Perdrier, rosé, corretíssimo. WF bebericou o Ultimate Cosmo, um drink com vodka de limão, Cointreau e gotas de cranberry. De entrada, OG pediu Escargots at Home, servidos na manteiga de alho e ervas, que estavam muito bons, segundo ela.

Eu e CF fomos de Baked Brie Chesse, um queijo brie tostado por fora e intacto por dentro, delicioso, que se derretia na boca, finalizado ao molho de manga.

Resolvemos não arriscar no prato principal,  escolhendo duas das três atrações da casa. Eu, AB, OG e CF dividimos duas Live Maine Lobster,. lagosta de larga fama, pescada no Maine, enorme, de quase dois quilos, bem mais avantajada do que a nossa  Panurilus argus, vulgo lagosta vermelha. Veio no ponto certo, com alicate próprio para quebrar as grandes patas, servida com aspargos e purê de batata e cenoura. Estava dos deuses.

WF foi no tradicional Beef Wellington, o filé envolto em massa folhada, que na versão do Martin's leva no envólucro foie gras e presunto serrano, além dos cogumelos salteados e cebola, acompanhado de molho verde de pimenta do reino. Era tão farto que o jovem apetite de WF não conseguiu consumi-lo todo. MF, mulher de WF, optou pelo Ribe Eye Stick Casanova,  contrafilé grelhado com creamcheese,  servido com aspargos. O casal gostou dos pratos.

 

Meu biotipo de Paulo Zulu tendendo a Jô Soares me inibe as sobremesas e OG, CF e AB optaram apenas pelo café - na verdade, chafé, naquelas xícaras grandes, como é tradição nos EUA ( café expresso nem pensar, mesmo num restaurante tido como refinado).  O jovem casal, contudo, foi em frente e pediu os tradicionais creme brulée (ele) e applestrudel (ela), que estavam tradicionais mesmo - ou seja, nada demais nas sobremesas.

 

Para horror do  amigo e grande chef Ricardo Gafrée, dono deste blog, arrematei o belo jantar com um licor - que ele diz ser atitude old fashioned, típica somente de pernambucano metido a besta. Escolhi um sambuca e me decepcionei com o american way de serví-lo, apenas na temperatura ambiente, ao invés da tradição tupiniquim da infusão de grãos de café e de ser flambado.

Estes pequenos deslizes, porém, nem de longe sombrearam o prazer do jantar no Martin's. Se você for a Key West, arrume um tempinho para comer lá. Os preços não são baixos, mas estão aquém dos restaurantes brasilienses cinco estrelas.

Martin's

917 Duval Street

Key West

fone 3052950111

www.martinskeywest.com