RIO DE JANEIRO - LEMBRANÇAS GASTRONÔMICAS DE 70/80

30/01/2013 14:43
Aproveitando "enquanto seu lobo não vem" para dar continuidade às minhas lembranças do meu querido Rio. Dos meus quarenta e dois anos de trabalho, passei uns trinta e poucos almoçando no centro do Rio. Depois me mudei para Brasília e bem .... aí é outra história.
Sempre fui um fã dos sanduíches disponíveis nos velhos botequins cariocas na hora do almoço em que se comia, em pé mesmo, um belo sanduíche de pernil, ou um de presunto com aquela "farofinha" em cima. 
 
Adorava os sanduíches do Araujo, na rua da Alfândega, o verdadeiro pé sujo carioca  ...... O Gaucho, na São José com Rodrigo Silva, também merecia uma paradinha para comer a empadinha de camarão, o sanduíche de linguiça fina com ou sem molho da pequena vitrine, arrematando com um chopp estupidamente gelado.
Antes de entrar nos restaurantes propriamente ditos vale a pena mencionar a Confeitaria Colombo com os seus salgadinhos quentinhos e seus doces. Você escolhia os que queria comer e eram servidos nos pequenos pratos antigos com o brasão, ou logotipo, da Colombo. A coxinha de galinha, a maravilha e o empanado de camarão faziam a diferença. Me lembro até hoje do sabor do pastel de carne. 
Só o lugar histórico preservado com os seus espelhos e vitrais já merecem uma visita. Ao fundo e em cima são servidas refeições no restaurante que oscilava entre fases boas e más - mas para más do que para boas. 
Rivalizando tinha a Cavé, a mais antiga confeitaria do Rio, desde 1860, com os seus lustres e vidros franceses. Preferia a Colombo!
O Bar Luiz sempre teve a minha preferência pois servia uma salada de batata inigualável, que acompanhada de salsichão, ou croquete de carne, ou kassler fazia a festa. Há pouco tempo atrás procurei no Google a tal receita da salada mas não tem! 
Acabou de fazer 126 anos (é de janeiro de 1887), e a sua história nos diz que nasceu com o nome de Zum Schlauch (serpentina do chopp, em alemão), mudou para Zum Alten Jabob (Ao Velho Jacob, cujo proprietário era o Jacob Wendling ), Bar Adolf em homenagem a seu afilhado e futuro dono, Adolf Rumjaneck e, finalmente, Bar Luiz quando o sócio austríaco, Ludwig Vöit, assumiu o restaurante com a morte do Adolf. 
 
A história do Bar Luiz merece um post à parte. O prédio atual (1927) em estilo art déco, foi tombado em 1985 e ganhou vários concursos de melhor chopp servido.
Continuando com a comida alemã, a história da Casa Urich começa em 1913 com a vinda do imigrante alemão Edmund Urich, na época instalada na rua Sete de Setembro, e que foi a principio um restaurante tipicamente alemão. 
Em 1942 foi comprada pelo espanhol José Gil Dieguez, e transferida para o atual endereço em 1950. A atual administração adquiriu o restaurante em 1 de abril de 1992, e desde então se preocupou em manter a tradição alemã. É famoso o seu kassler defumado com salada de aipo e roquefort que comi várias vezes.
 
No período em que estive trabalhando nas proximidades da Praça Mauá frequentava o Ficha, lá pelas bandas da Teófilo Otoni. Dona Maria Schaade e seu ajudante que mais tarde se tornou também dono (nunca me aprofundei nessa história - deixa pra lá!), preparavam pratos deliciosos e dentre eles estava o famoso Labskaus, feito com carne de peito defumada, batata, viandada, cebola e ovos, sempre servida com ovos fritos e pepinos. Às sextas-feiras ficava em pé no meio da rua esperando vagar uma mesa pois o Ficha era minúsculo. A sorte é que havia um atendimento vip para alguns frequentadores que eram abastecidos de chopp em profusão. Resultado: quando você sentava já estava "pra lá de Marrakesh". Quando era acomodado num pequeno mezanino feito de madeira e só com uma mesa, chamava o garçom batendo com o pé no chão. Quando saía de lá, pelas 3 ou 4 da tarde, não sei como chegava na escritório ... ainda nas imediações da Mauá, no Ocidental, comia "frango marítimo" e as famosas sardinhas fritas abertas à milanesa.
Era o início das happys ...
Também nas redondezas o famoso omelete de bacalhau da Casa Paladino era degustado por mim, um de seus fiéis frequentadores.
 
Para os lados do Saara, ia no Cedro do Líbano com as suas esfihas e quibes fantásticos, o Sírio Libanês, onde comi  um bucho de cordeiro inesquecível recheado com arroz de lentilhas, e o Penafiel, na Senhor dos Passos, que frequentei num determinado período, com as suas grandes panelas ao fundo recheadas com delícias portuguesas.
 

 

Um patrimônio do centro do Rio era (é) o Sentaí, que propiciava comer lagosta por um preço acessível, muito embora naquela época ser caro para mim. Fundado em 1950, O Rei da Lagosta, até hoje serve moquecas ou grelhados de lagosta, além das famosas especialidades portuguesas como o bacalhau à lagareira e o cabrito à chanfana.

 

 
Puxando mais pela memória um capítulo à parte eram os restaurantes portugueses instalados no centro. Alguns, como o Rio Minho, o mais antigo do Rio (1884), são lembrados pelo bacalhau e suas batatas ao murro ou o polvo com arroz de brócolis e batatas coradas, ou o Albamar por sua boa comida e sua vista espetacular da Baía. Li, recentemente que o grande chef Luiz Incao está por lá.
Também o restaurante O Navegador, que há 37 anos ocupa o sexto andar do centenário prédio do Clube Naval, me traz lembranças do pão de queijo de entrada, assado na forma de empada. Quantas vezes repeti o couvert!!!
 
E a costela bovina do Escondinho que chega à mesa desmanchando depois de cozinhar durante 5 horas? Fiz inclusive um post sobre a cabeça de peixe servida lá! Só a ida ao Beco dos Barbeiros já é, ou era, uma volta ao tempo.  
Já na Lapa, o Nova Capela (1903), o Cosmopolita e o Bar Brasil trazem lembranças de muitos almoços intermináveis. Não tinha como almoçar em apenas uma hora!!!
 
Os tradicionais Mocambo, com o seu famoso picadinho de carne, o Assirius do Teatro Municipal, João de Barro, Mosteiro e suas fantásticas empadinhas de camarão que derretiam na boca. Esses, e outros, só ia quando recebia algum convite de PJ.
 

 

É claro que este post não encerra o assunto, mas foi bom exercitar a minha memória gastronômica revirando um pouco o meu passado.